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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Compreendendo o Cérebro Autista: Como Ele Processa o Mundo

Introdução

autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico que afeta a maneira como uma pessoa percebe o mundo, interage com os outros e processa informações. Embora cada pessoa com autismo seja única, as dificuldades relacionadas à comunicação social, comportamentos repetitivos e uma resposta sensorial diferente do habitual são características comuns. Este texto visa esclarecer o que as pessoas precisam saber sobre o cérebro autista, suas peculiaridades, como ele processa as informações de maneira diferente e como isso influencia o comportamento e as interações sociais.

1. O Cérebro Autista: Diferenças no Processamento Sensorial

Uma das características mais notáveis do cérebro autista é a forma como ele processa as informações sensoriais. Pessoas com autismo podem ser mais sensíveis a estímulos como luzes fortes, sons altos, texturas e cheiros, ou, em alguns casos, podem não reagir a esses estímulos de maneira convencional. O cérebro autista tende a ter uma hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial, o que significa que ele pode perceber estímulos que outras pessoas não notam ou, ao contrário, não responder a estímulos que seriam comuns para a maioria.

Exemplos de Diferenças Sensorais:

  • Hipersensibilidade: A pessoa pode ficar facilmente sobrecarregada com barulhos altos ou luzes fortes, o que pode causar desconforto ou até dor.
  • Hipossensibilidade: Algumas pessoas podem não reagir a dor ou temperatura da mesma forma que os outros, ou podem buscar estímulos sensoriais intensos, como girar objetos ou bater as mãos.

Essas diferenças sensoriais podem afetar a forma como a pessoa com autismo interage com o ambiente e, muitas vezes, podem ser mal interpretadas por outras pessoas como comportamento estranho ou difícil de lidar.

2. Conexões Cerebrais e Processamento de Informações

O cérebro de uma pessoa com autismo funciona de maneira diferente quando se trata de conexões cerebrais. Estudos indicam que algumas áreas do cérebro em pessoas com autismo podem estar mais ou menos conectadas entre si do que em pessoas típicas. Por exemplo, a comunicação entre o hemisfério direito e esquerdo do cérebro pode ser menos eficiente, o que pode dificultar tarefas que envolvem a integração de informações sensoriais e sociais.

O que isso significa para o comportamento?

  • Dificuldade em interpretar sinais sociais: Como o processamento social depende de uma comunicação eficaz entre diferentes áreas do cérebro, as pessoas com autismo podem ter dificuldade em entender expressões faciaisgestos ou tom de voz, o que dificulta a comunicação.
  • Foco em detalhes: Em vez de perceber uma situação de maneira holística, pessoas com autismo podem se concentrar em detalhes específicos, como o som de um ventilador ou o movimento de um objeto, sem perceber o contexto mais amplo.

3. Função Executiva e Comportamentos Repetitivos

função executiva no cérebro, que envolve habilidades como organização, planejamento, controle de impulsos e flexibilidade mental, pode ser afetada em pessoas com autismo. Isso pode levar a dificuldades em mudar de uma atividade para outra, a rigidez nos pensamentos ou a resistência à mudança.

Comportamentos repetitivos:

Comportamentos repetitivos, como balançar o corpo, bater as mãos ou insistir em seguir rotinas específicas, são comuns no autismo. Essas ações podem ser uma maneira de a pessoa lidar com a ansiedade ou de auto-regulação emocional. O cérebro autista pode buscar repetição para proporcionar uma sensação de segurança ou controle sobre o ambiente, especialmente em situações novas ou desconfortáveis.

4. Dificuldades na Comunicação Social

A comunicação social é uma área que pode ser desafiadora para muitas pessoas com autismo. Isso não significa que as pessoas com autismo não querem se comunicar, mas sim que o cérebro delas pode processar a linguagem de uma maneira diferente.

Diferenças na comunicação:

  • Expressão verbal e não verbal: As pessoas com autismo podem ter dificuldades em usar ou compreender a linguagem corporal, os olhares e outros aspectos da comunicação não verbal. Além disso, o uso de palavras pode ser literal demais, dificultando a compreensão de metáforas ou expressões figurativas.
  • Dificuldade de iniciar e manter conversas: O cérebro autista pode ter dificuldades em entender as normas sociais que regem uma conversa, como esperar a vez de falar ou mudar de tópico.

5. Forças Cognitivas e Habilidades Especiais

Apesar das dificuldades, muitas pessoas com autismo possuem habilidades cognitivas especiais ou um nível de inteligência acima da média em áreas específicas. Alguns indivíduos com autismo apresentam habilidades excepcionais em áreas como matemática, música ou arte, o que é frequentemente descrito como “savant” (termo que descreve alguém com habilidades excepcionais em um campo específico).

Exemplos de habilidades especiais:

  • Memória visual: Algumas pessoas com autismo têm uma memória visual excepcional e podem se lembrar de detalhes minuciosos com grande clareza.
  • Capacidade analítica: Muitas pessoas com autismo têm uma habilidade natural para resolver problemas complexos e podem se destacar em tarefas que exigem atenção aos detalhes ou raciocínio lógico.

6. Importância do Suporte e Intervenções

Embora o cérebro autista funcione de maneira única, é importante reconhecer que cada pessoa com autismo é diferente. As intervenções precoces, como terapia comportamental ou treinamento de habilidades sociais, podem ser extremamente eficazes no auxílio ao desenvolvimento das habilidades de comunicação e adaptação ao ambiente.

Como apoiar:

  • Terapias de comunicação: A fonoaudiologia e outras formas de terapia podem ajudar na comunicação verbal e não verbal.
  • Estratégias de ensino adaptadas: Ensinar com base nas habilidades e no estilo de aprendizagem único de cada pessoa pode ser uma maneira eficaz de ajudá-las a atingir seu potencial máximo.

Conclusão

O cérebro de uma pessoa com autismo processa informações de maneira única, o que resulta em uma forma diferente de perceber o mundo e interagir com ele. Compreender essas diferenças e reconhecer as forças e desafios associados ao autismo é essencial para apoiar o desenvolvimento e promover a inclusão. Ao fornecer estratégias de apoio adequadas e respeitar as características individuais de cada pessoa, podemos criar um ambiente mais inclusivo e compreensivo para aqueles que vivem com autismo.

Referências

  1. Baron-Cohen, S. (2008). The Autism Spectrum: Theory and Practice. Cambridge University Press.
  2. Frith, U. (2003). Autism: Explaining the Enigma. Blackwell Publishing.
  3. Mundy, P., & Crowson, M. (2016). “Neurodevelopmental perspectives on autism spectrum disorder.” Development and Psychopathology, 28(3), 665-682.
Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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