TDAH no Cotidiano: Impactos no Trabalho, Relações e Produtividade

Introdução

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é muito mais do que desorganização ou falta de atenção. Ele envolve um modo particular de funcionamento cerebral que impacta a rotina, as relações, os estudos e até a autoestima. Muitas pessoas acreditam que o TDAH se resume a “ser avoado”, mas o transtorno vai muito além disso. Ele afeta a forma como o cérebro filtra informações, controla impulsos e administra emoções. Para entender isso, precisamos olhar para o dia a dia e também para o que acontece “por dentro” — no cérebro e no comportamento.

TDAH não é “só desorganização”: é um padrão de funcionamento

Como vimos no conteúdo do arquivo, muitas pessoas perguntam: “Eu sou desorganizada ou tenho TDAH?”.
A resposta é mais complexa.

O TDAH envolve três pilares principais:

  • Instabilidade da atenção
  • Impulsividade
  • Hiperatividade (física ou mental)

A desorganização pode aparecer, mas ela não define o diagnóstico.
O que define é um padrão consistente de instabilidade da atenção desde a infância, geralmente com alguém na família que compartilha traços semelhantes, pois o TDAH tem forte componente genético.

Como o cérebro com TDAH funciona

O TDAH envolve alterações no funcionamento da dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer, foco e motivação.
No arquivo que você enviou, isso foi explicado com muita clareza:

  • A dopamina funciona como o “combustível” do lobo frontal.
  • O lobo frontal é a área responsável pela organização, foco, planejamento, filtragem emocional e controle dos impulsos.
  • No TDAH, a dopamina é mais baixa ou mais instável, então o “maestro” do cérebro — o lobo frontal — tem dificuldade para coordenar tudo.

O resultado disso no dia a dia é simples de perceber:

  • A pessoa quer focar, mas a mente “pula” para outros assuntos.
  • Existe dificuldade em começar tarefas ou terminá-las.
  • Pequenas atividades parecem enormes porque exigem esforço mental contínuo.
  • Atividades sem recompensa imediata se tornam ainda mais difíceis.

Quando o prazer entra em cena: o hiperfoco

Muita gente acha que quem tem TDAH não presta atenção em nada. Isso não é verdade.
O problema não é falta de atenção, e sim instabilidade da atenção.

Por isso, quando algo ativa a dopamina — como um jogo, um tema preferido, um hobby ou um desafio estimulante — o cérebro “liga” e a pessoa consegue:

  • Ficar horas concentrada;
  • Render muito mais;
  • Demonstrar grande habilidade.

Esse fenômeno é chamado de hiperfoco.

E como o arquivo deixa claro:

A criança que não se concentra na escola muitas vezes passa horas em um jogo ou atividade que ama, porque o cérebro dela liberou dopamina, permitindo foco prolongado.

O risco do prazer rápido: dopamina “barata”

Os jogos online e as redes sociais são projetados para liberar dopamina rápida — a chamada dopamina barata.
Eles oferecem estímulos constantes (sons, cores, recompensas) que capturam o cérebro facilmente, especialmente no TDAH.

Isso pode gerar:

  • dependência digital;
  • dificuldade de focar em tarefas mais lentas, como estudar;
  • sensação de vazio quando não há estímulo;
  • exaustão mental após excesso de telas.

Por isso, quem tem TDAH precisa tomar cuidado com:

  • jogos online (extremamente estimulantes);
  • redes sociais;
  • conteúdos de consumo rápido.

Esses estímulos “sequestram” a dopamina e dificultam o foco em atividades comuns do dia a dia.

TDAH na rotina: como ele afeta o dia a dia

O TDAH impacta diversas áreas:

1. Vida pessoal

  • Dificuldade de manter hábitos e organizar a casa.
  • Começar tarefas e não terminar.
  • Esquecer compromissos, contas, objetos.
  • Perder prazos e se sentir frustrado com isso.

2. Vida profissional

  • Dificuldade de lidar com rotinas repetitivas.
  • Alta criatividade, mas pouco foco para finalizar projetos.
  • Procrastinação intensa.
  • Sensação de “adiar tudo”.

3. Relações

  • Impulsividade emocional.
  • Falas no calor do momento.
  • Dificuldade de ouvir até o fim.
  • Oscilações de humor e hiperatividade mental.

4. Estudos

  • Dificuldade de concentração em tarefas sem recompensa imediata.
  • Desempenho irregular: dias ótimos e dias muito ruins.
  • Esquecimentos frequentes.

A importância de hábitos estruturados

Como vimos no arquivo, crianças com TDAH precisam de:

  • organização ensinada desde cedo;
  • rotina muito clara;
  • repetição para criar conexões cerebrais fortes;
  • exemplos consistentes (neurônio-espelho).

Na vida adulta, isso continua sendo essencial.
Sem estrutura, o cérebro com TDAH “desregula” rapidamente.

Hábitos que ajudam:

  • rotina clara;
  • ambientes organizados;
  • uso de listas simples;
  • técnicas de foco em ciclos (como Pomodoro);
  • pausas regulares;
  • exercício físico;
  • recompensas saudáveis (para estimular dopamina).

Dopamina sustentável: o segredo para melhorar o foco

O arquivo explica lindamente a diferença entre dopamina barata e dopamina cara.

A dopamina sustentável vem de:

  • hábitos saudáveis;
  • atividade física;
  • cumprir pequenas tarefas;
  • acordar no mesmo horário;
  • estabelecer rotinas;
  • cuidar de si mesmo;
  • ter propósito.

Essa dopamina cresce devagar, mas é duradoura.
É ela que melhora o foco e ajuda o cérebro a se organizar.

Conclusão

O TDAH não é preguiça, não é falta de força de vontade e não é desorganização isolada. Ele é um padrão de funcionamento cerebral que acompanha a pessoa desde cedo e molda a forma como ela pensa, sente e age.
Compreender esse funcionamento — especialmente o papel da dopamina e da instabilidade da atenção — permite que cada pessoa encontre estratégias mais eficazes para lidar com a rotina.

E quando há compreensão, nasce o alívio: você não é “bagunçado demais”.
Você só tem um cérebro que funciona de outro jeito — e sim, ele pode aprender, melhorar e florescer com as ferramentas certas.

Referências

American Psychiatric Association (2013). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment.
Silva, A. B. B. (2018). Mentes Inquietas – TDAH: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade.
Volkow, N. & Swanson, J. (2013). Clinical practice: Adult ADHD.

Picture of Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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