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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Uso Frequente do Celular Pode Aumentar os Sintomas do TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por desatenção, impulsividade e hiperatividade.

Introdução

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica caracterizada por desatenção, impulsividade e hiperatividade. Em um mundo cada vez mais digital, surge a preocupação de que o uso excessivo de celulares e outros dispositivos eletrônicos possa intensificar os sintomas do TDAH, especialmente entre crianças e adolescentes.

Mas será que existe, de fato, uma relação entre o uso frequente do celular e o agravamento do TDAH? A tecnologia pode ser uma aliada ou inimiga para pessoas com esse transtorno?

Neste artigo, vamos explorar os impactos do uso excessivo de telas no cérebro de quem tem TDAH e como equilibrar o uso da tecnologia para evitar prejuízos cognitivos.

TDAH e a Vulnerabilidade ao Uso Excessivo de Tecnologia

Pessoas com TDAH já apresentam uma dificuldade natural em manter a atenção e controlar impulsos, tornando-as mais vulneráveis aos estímulos intensos proporcionados pelo uso constante de dispositivos móveis.

A tecnologia digital oferece uma rápida sucessão de informações, notificações e recompensas imediatas, o que pode:

  • Reduzir ainda mais a capacidade de concentração.
  • Reforçar o comportamento impulsivo (trocas rápidas entre aplicativos, dificuldade de manter foco em uma única tarefa).
  • Aumentar a dependência da estimulação constante, prejudicando a habilidade de realizar tarefas mais demoradas e desafiadoras.

Como o Uso Frequente do Celular Impacta os Sintomas do TDAH?

Estudos sugerem que o uso excessivo de telas pode agravar sintomas do TDAH ao impactar diretamente a atenção, a regulação emocional e o controle dos impulsos.

1. Redução da Capacidade de Foco e Concentração

O uso frequente de celulares incentiva um comportamento de troca rápida de estímulos, o que pode dificultar a manutenção do foco em atividades que exigem atenção prolongada, como estudar ou ler.

Além disso, pesquisas indicam que o uso excessivo de tecnologia altera o funcionamento do córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelo controle da atenção e da organização – áreas já afetadas em pessoas com TDAH.

2. Aumento da Impulsividade

As redes sociais e jogos eletrônicos oferecem recompensas instantâneas, como curtidas, notificações e pontuações. Isso reforça um padrão de gratificação imediata, dificultando a paciência e a tolerância à frustração.

Pessoas com TDAH já possuem dificuldade em esperar por recompensas de longo prazo, e o uso excessivo do celular pode intensificar esse comportamento, tornando-as ainda mais impulsivas.

3. Prejuízos no Sono e Regulação Emocional

O uso prolongado do celular, especialmente à noite, reduz a produção de melatonina, hormônio essencial para um sono de qualidade. O TDAH já está associado a dificuldades de sono, e a privação desse descanso agrava sintomas como:

  • Maior dificuldade de concentração.
  • Irritabilidade e descontrole emocional.
  • Maior impulsividade e hiperatividade.

Além disso, a exposição excessiva a conteúdos rápidos e intensos pode levar a uma sobrecarga emocional, tornando a regulação dos sentimentos mais difícil para quem tem TDAH.

4. Dificuldade em Tarefas de Longa Duração

O cérebro de uma pessoa com TDAH já tem dificuldades em lidar com tarefas monótonas ou demoradas. O uso frequente do celular reforça essa dificuldade, pois o usuário se habitua a receber estímulos imediatos e perde o interesse em atividades que exigem paciência e concentração contínua.

Isso pode afetar desempenho acadêmico, profissional e até habilidades sociais, pois muitas interações exigem atenção prolongada e esforço cognitivo.

A Tecnologia Pode Ser Aliada do TDAH?

Apesar dos desafios, a tecnologia também pode ser uma ferramenta útil para pessoas com TDAH, quando utilizada de forma consciente e estratégica.

1. Aplicativos de Organização e Produtividade

Alguns aplicativos ajudam a melhorar a organização e o foco, como:

  • Forest – Ajuda a manter a concentração por períodos longos.
  • Trello ou Notion – Facilitam a organização de tarefas e compromissos.
  • Pomodoro Timers – Auxiliam na gestão do tempo e no aumento da produtividade.

2. Uso de Recursos de Áudio e Leitura Digital

Para aqueles que têm dificuldades com leitura prolongada, audiolivros e leitores digitais podem ajudar a manter o foco e a compreensão do conteúdo.

3. Exercícios de Mindfulness e Meditação

Aplicativos como Headspace e Calm podem ajudar a melhorar o controle da impulsividade e a regulação emocional.

A chave está em usar a tecnologia de maneira controlada e intencional, em vez de deixar que ela domine a rotina.

Dicas para Reduzir os Efeitos Negativos do Uso do Celular em Pessoas com TDAH

Para evitar que o uso do celular agrave os sintomas do TDAH, algumas mudanças podem ser implementadas no dia a dia:

  • Definir horários específicos para usar o celular, evitando o uso excessivo.
  • Evitar telas pelo menos uma hora antes de dormir, para melhorar a qualidade do sono.
  • Utilizar o modo “não perturbe” ou desativar notificações, reduzindo distrações.
  • Estabelecer limites para redes sociais e jogos, evitando a hiperestimulação.
  • Priorizar atividades offline, como leitura, exercícios físicos e hobbies.

Conclusão

O uso frequente do celular pode, sim, intensificar sintomas do TDAH, especialmente no que se refere à atenção, impulsividade e regulação emocional. O estímulo constante das telas reforça padrões de gratificação instantânea, tornando mais difícil lidar com tarefas que exigem paciência e concentração prolongada.

No entanto, quando utilizado de forma equilibrada, a tecnologia pode ser uma aliada para melhorar a produtividade e organização de pessoas com TDAH. O segredo está em estabelecer limites saudáveis e estratégias para evitar o uso excessivo.

Se você ou alguém próximo convive com o TDAH e percebe dificuldades relacionadas ao uso da tecnologia, buscar orientação profissional pode ajudar a encontrar um equilíbrio e melhorar a qualidade de vida.

Referências

  1. Small, G. W., & Vorgan, G. (2008). iBrain: Surviving the Technological Alteration of the Modern Mind. HarperCollins.
  2. Barkley, R. A. (2015). Attention-Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. Guilford Press.
  3. Christakis, D. A. (2018). Interactive Media Use at Younger Than the Age of 2 Years: Time to Rethink the American Academy of Pediatrics Guidelines? JAMA Pediatrics.
  4. American Psychiatric Association (APA). (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).
  5. Zimmerman, F. J., & Christakis, D. A. (2005). Children’s Television Viewing and Cognitive Outcomes. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine.
Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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