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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Transtorno de Ansiedade de Separação: Quando o Medo Domina a Infância

Transtorno de Ansiedade de Separação Quando o Medo Domina a Infância

Introdução

O transtorno de ansiedade de separação (TAS) é uma condição psicológica muito mais séria do que um simples medo infantil de ficar longe dos pais. Ele envolve um medo intenso e desproporcional da separação, comprometendo o funcionamento emocional, social e acadêmico da criança — e, em certos casos, também de adultos. Embora muitos tratem como “manha” ou “apego excessivo”, o TAS é um transtorno real, reconhecido pela psiquiatria, e precisa ser encarado com seriedade. Neste texto, vamos explorar suas características, impactos, bases neurológicas e estratégias de tratamento, trazendo explicações claras e fundamentadas.

O que é o Transtorno de Ansiedade de Separação?

O TAS caracteriza-se por um medo irracional e persistente de ficar longe das figuras de apego, geralmente os pais ou cuidadores. Ele surge, principalmente, na infância, embora possa continuar na vida adulta. Segundo o DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013), os sintomas incluem angústia intensa antes ou durante a separação, preocupação constante com a possibilidade de perder as figuras de apego, pesadelos recorrentes com temas de separação e queixas físicas, como dores de barriga ou cabeça, quando a separação se aproxima.

Portanto, é fundamental diferenciar o TAS de desconfortos normais que surgem, por exemplo, no primeiro dia de aula. No transtorno, o sofrimento ultrapassa o esperado para a idade e persiste por pelo menos quatro semanas (nas crianças) ou seis meses (nos adultos).

Causas e fatores de risco: o que a ciência diz?

O transtorno tem origem multifatorial, combinando genética, temperamento e experiências de vida. Estudos mostram que crianças com pais ansiosos ou superprotetores apresentam maior risco de desenvolver TAS. Além disso, eventos estressantes, como mudanças de escola, morte de um parente ou divórcio, frequentemente atuam como gatilhos.

Do ponto de vista neurológico, pesquisas indicam que o TAS envolve hiperatividade na amígdala cerebral, responsável por processar o medo, e uma regulação insuficiente pelo córtex pré-frontal, que deveria ajudar no controle emocional (Wilens et al., 2008). Ou seja, o cérebro reage de forma exagerada a situações que deveriam ser neutras ou suportáveis.

Consequências emocionais e sociais

O TAS traz prejuízos significativos para o desenvolvimento emocional e social. Quando não tratado, ele pode levar a evitar a escola ou atividades sociais, perder oportunidades importantes de desenvolvimento e enfrentar isolamento e dificuldades para fazer amigos.

Além disso, é comum que pais e cuidadores, exaustos e culpados, reforcem involuntariamente os comportamentos ansiosos. Isso acontece, por exemplo, quando cancelam compromissos ou evitam se afastar para não causar sofrimento à criança. Consequentemente, o problema se perpetua e pode evoluir para outros transtornos, como ansiedade generalizada ou depressão (Volkow & Swanson, 2013).

Como identificar e diagnosticar?

Somente um profissional especializado, como psicólogo ou psiquiatra infantil, pode diagnosticar corretamente o TAS. O diagnóstico baseia-se em entrevistas clínicas, observação de sintomas e questionários padronizados. Alguns sinais de alerta são medo exagerado de que algo ruim aconteça aos pais, relutância extrema em dormir sozinho, necessidade constante de saber onde os pais estão e choro intenso ou ataques de pânico diante de separações.

Por isso, é essencial lembrar: ansiedade de separação é normal em certas fases, como entre 8 meses e 3 anos. Só se torna transtorno quando é intensa, persistente e afeta a rotina familiar.

Tratamento: fortalecendo a autonomia emocional

O tratamento mais eficaz para o TAS é a terapia cognitivo-comportamental (TCC). Ela ajuda a criança (ou adulto) a identificar pensamentos distorcidos e desenvolver estratégias saudáveis. Além disso, algumas abordagens importantes incluem treino gradual de separação, aumentando pouco a pouco o tempo longe dos pais; técnicas de relaxamento, como respiração profunda e mindfulness, para reduzir sintomas físicos; e psicoeducação familiar, explicando aos pais como lidar de forma acolhedora e firme.

Em casos mais graves, o psiquiatra pode indicar o uso de medicação ansiolítica ou antidepressiva (Heal et al., 2013). Contudo, isso sempre deve ser acompanhado de terapia.

Como prevenir e fortalecer crianças emocionalmente?

Mesmo que nem todos os casos sejam preveníveis, os pais podem tomar atitudes que fortalecem a resiliência emocional dos filhos. Incentivar a autonomia desde cedo, permitindo que explorem o mundo com supervisão; validar os sentimentos, mas sem reforçar os comportamentos ansiosos; manter rotinas consistentes, que trazem previsibilidade e segurança; e evitar superproteção, permitindo pequenos desafios proporcionais à idade.

Assim, a criança aprende a enfrentar medos e frustrações, sentindo-se apoiada, mas não dependente.

Conclusão

O transtorno de ansiedade de separação é uma condição séria, que merece atenção e cuidado. Ele não indica fraqueza nem excesso de mimo: trata-se de uma resposta emocional desregulada, que combina fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Felizmente, com diagnóstico correto e tratamento adequado, a criança (ou adulto) pode superar o medo da separação e desenvolver uma vida emocional saudável.

Portanto, falar sobre saúde mental infantil não é exagero — é necessidade. Investir no bem-estar emocional das crianças é investir num futuro mais equilibrado e confiante para todos.

Referências

American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Wilens, T. E., et al. (2008). Misuse and Diversion of Stimulants Prescribed for ADHD: A Systematic Review.
Volkow, N. D., & Swanson, J. M. (2013). Adult Attention Deficit–Hyperactivity Disorder.
Heal, D. J., Smith, S. L., Gosden, J., & Nutt, D. J. (2013). Amphetamine, past and present–a pharmacological and clinical perspective.
Farah, M. J. (2015). The unknowns of cognitive enhancement.

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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