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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Autismo Sem Mitos: Desconstruindo Falsas Crenças Sobre o TEA

Autismo Sem Mitos Desconstruindo Falsas Crenças Sobre o TEA

Introdução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica que afeta a forma como uma pessoa percebe o mundo, se comunica e interage socialmente. No entanto, ao longo do tempo, o autismo foi cercado por mitos e estigmas que reforçam o preconceito e dificultam a verdadeira inclusão. Muitos desses mitos surgem da falta de informação, da generalização ou da representação distorcida em filmes, redes sociais e discursos sociais.

Infelizmente, essas ideias equivocadas não apenas impedem o entendimento profundo do que é o autismo, como também prejudicam o acolhimento de pessoas autistas em escolas, ambientes de trabalho e relações sociais. Por isso, é essencial combater essas falsas crenças com informação de qualidade, empatia e escuta ativa.

Neste texto, vamos abordar os principais mitos sobre o autismo, explicar por que estão errados e trazer luz a uma compreensão mais humana e verdadeira do espectro autista.

Mito 1: “Todo autista tem deficiência intelectual”

Esse é um dos equívocos mais comuns. Embora algumas pessoas com autismo apresentem deficiência intelectual, muitas têm inteligência dentro da média ou até acima dela. O que acontece é que o autismo afeta a forma como a pessoa expressa o que sabe, o que pode gerar interpretações erradas sobre suas capacidades.

Além disso, habilidades podem ser muito específicas, como memória excepcional, raciocínio lógico ou hiperfoco em determinados temas. Portanto, julgar a inteligência de um autista apenas pela sua comunicação verbal ou comportamento social é profundamente injusto.

Mito 2: “Autistas não sentem emoções”

Esse mito é extremamente prejudicial. Pessoas com autismo sentem e expressam emoções, sim, mas de maneira diferente. Muitas vezes, têm dificuldade em compreender ou demonstrar sentimentos como empatia, alegria ou frustração da forma como a sociedade espera.

No entanto, isso não significa frieza emocional. Na verdade, autistas podem ser altamente sensíveis e empáticos, mas precisam de tempo, espaço e linguagem acessível para expressar o que sentem.

Mito 3: “Autismo é causado por vacinas”

Esse mito foi amplamente difundido por um estudo fraudulento nos anos 1990, já desmentido por inúmeras pesquisas sérias. Não há nenhuma evidência científica que comprove qualquer relação entre vacinas e autismo.

Pelo contrário: vacinas são essenciais para prevenir doenças graves e salvam vidas todos os dias. A manutenção dessa crença representa um risco à saúde pública e um desserviço à causa do autismo.

Mito 4: “Autistas são todos iguais”

O termo “espectro” no TEA existe justamente para reforçar que não há um único tipo de autismo. As manifestações variam imensamente de pessoa para pessoa: enquanto alguns são altamente verbais, outros não se comunicam pela fala; enquanto alguns têm grande autonomia, outros precisam de apoio contínuo.

Portanto, não existe “cara de autista”, nem um comportamento que defina a totalidade das pessoas com TEA. Cada autista é único, com suas particularidades, talentos e desafios.

Mito 5: “Autistas não conseguem se relacionar ou trabalhar”

Muitas pessoas com autismo constroem amizades, se casam, têm filhos e desenvolvem carreiras bem-sucedidas. O que elas precisam é de um ambiente que compreenda suas necessidades e respeite seus tempos e formas de comunicação.

Com suporte adequado e acesso a oportunidades, o autista pode desenvolver todo o seu potencial. O que limita é o preconceito, não o diagnóstico.

Mito 6: “Autismo tem cura”

O autismo não é uma doença e, portanto, não precisa de cura. Ele é uma condição neurológica que acompanha a pessoa por toda a vida. O foco deve ser no acolhimento, inclusão, adaptação e desenvolvimento de habilidades, respeitando a individualidade de cada um.

Procurar “curar” o autismo é desrespeitar a identidade de quem vive no espectro e tentar moldá-lo a um padrão social limitado.

Mito 7: “Autistas vivem em seu próprio mundo”

Essa frase reforça a ideia de que o autista é alheio à realidade, o que não é verdade. Muitas vezes, o que parece “desconexão” é, na verdade, uma forma diferente de se relacionar com o mundo. Barulhos altos, contato visual forçado ou ambientes caóticos podem ser angustiantes para quem tem hipersensibilidade sensorial.

Portanto, ao invés de julgar o silêncio ou o afastamento, é preciso aprender a escutar de outras formas, respeitando os limites e os sinais que cada autista oferece.

Conclusão

Combater os mitos sobre o autismo é um passo essencial para construir uma sociedade mais justa, inclusiva e empática. Informar é acolher. Corrigir ideias equivocadas é proteger. Ouvir sem julgar é amar.

Cada autista é único, com uma forma particular de existir no mundo. E o papel de todos nós é aprender, acolher e respeitar, para que essas pessoas possam viver com dignidade, afeto e pertencimento.

Referências

  1. American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
  2. Grandin, Temple. (2013). O Cérebro Autista.
  3. Organização Mundial da Saúde – Fatos e Mitos sobre o Autismo.
  4. Sociedade Brasileira de Pediatria – Manual de Orientação sobre TEA.
  5. Offit, P. A. (2010). Deadly Choices: How the Anti-Vaccine Movement Threatens Us All.
Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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