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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

A Relação Entre TDAH e Dopamina: O Que Você Precisa Saber

Introdução

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos distúrbios neurológicos mais estudados, afetando uma grande parte da população mundial, especialmente crianças. Embora sua causa exata ainda não seja completamente compreendida, muitos estudos apontam para um desequilíbrio nos neurotransmissores do cérebro, especialmente a dopamina, como um dos fatores principais. A questão que surge, então, é: o cérebro de quem tem TDAH nasce com uma produção menor de dopamina? Para responder a essa pergunta, é necessário explorar a função da dopamina, como ela se relaciona com o TDAH e quais as implicações dessa deficiência no comportamento e nas funções cognitivas.

1. O Papel da Dopamina no Cérebro

A dopamina é um neurotransmissor fundamental no cérebro, que desempenha um papel crucial em várias funções, como atenção, motividade, controle motor, emoções e recompensa. Ela está envolvida no sistema de motivação e aprendizado, ajudando a regular o foco e a atenção. Quando a dopamina está em níveis adequados, o cérebro funciona de forma eficiente, permitindo que a pessoa consiga concentrar-se nas tarefas e tenha uma boa resposta a estímulos de recompensa.

1.1 Deficiência de Dopamina e TDAH

No caso de pessoas com TDAH, observa-se que o sistema dopaminérgico pode estar desregulado, o que significa que a quantidade ou a eficácia da dopamina no cérebro pode ser insuficiente para um funcionamento normal. Estudo após estudo tem mostrado que pessoas com TDAH, particularmente aquelas que apresentam dificuldade de concentração, impulsividade e hiperatividade, frequentemente têm menores níveis de dopamina em áreas do cérebro associadas a atenção, memória de trabalho e controle de impulsos, como o córtex pré-frontal.

2. O Cérebro de Quem Tem TDAH Nasceu com Menos Dopamina?

Embora não se possa afirmar que o cérebro de uma pessoa com TDAH “nasceu fabricando menos dopamina”, a pesquisa sugere que deficiências no sistema dopaminérgico podem se desenvolver já desde o nascimento e se manifestar durante a infância. Isso pode ser resultado de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e neurobiológicos que afetam o desenvolvimento do sistema nervoso.

2.1 Fatores Genéticos

Estudos de hereditariedade sugerem que o TDAH tem uma forte base genética, com um risco maior de desenvolvimento para aqueles que têm familiares com o distúrbio. Isso implica que a produção de dopamina no cérebro pode ser alterada por genes específicos que afetam a forma como o corpo produz e processa a dopamina.

2.2 Alterações Neurobiológicas

Além disso, é possível que o cérebro de uma pessoa com TDAH apresente alterações estruturais e funcionais, como a redução do tamanho do córtex pré-frontal, uma área crucial para o controle executivo e a tomada de decisões. Essas alterações podem dificultar a regulação de dopamina, prejudicando a atenção e o comportamento. No entanto, a relação entre esses fatores ainda está sendo estudada e pode variar de uma pessoa para outra.

3. Implicações da Deficiência de Dopamina no Comportamento e Cognitivo

A deficiência de dopamina no cérebro pode ter diversas implicações no comportamento e nas funções cognitivas de quem sofre de TDAH. Isso ocorre porque a dopamina não apenas afeta a atenção, mas também está envolvida no controle emocional, motivação e memória de curto prazo.

3.1 Dificuldade de Atenção e Foco

Uma das características mais comuns do TDAH é a dificuldade de manter atenção em tarefas que não sejam altamente estimulantes ou recompensadoras. Como a dopamina está intimamente ligada ao sistema de motivação e recompensa, uma deficiência nesse neurotransmissor pode resultar em dificuldade em sustentar o foco em atividades que não proporcionam uma imediata sensação de recompensa.

3.2 Impulsividade e Falta de Controle

A dopamina também desempenha um papel fundamental no controle de impulsos. Portanto, uma produção inadequada de dopamina pode resultar em comportamentos impulsivos e na dificuldade de adiar recompensas. Isso se traduz em ações como dificuldade em esperar a sua vez, ou tomar decisões precipitadas, que são comuns em pessoas com TDAH.

3.3 Problemas de Motivação e Regulação Emocional

Pessoas com TDAH muitas vezes enfrentam dificuldades com motivação e podem se sentir desinteressadas por atividades que não geram estímulos imediatos. Além disso, a regulação emocional pode ser prejudicada, o que leva a reações emocionais desproporcionais ou dificuldade em controlar frustrações.

4. Tratamentos Focados na Dopamina para TDAH

Existem tratamentos eficazes que visam aumentar os níveis de dopamina no cérebro, especialmente por meio de medicamentos psicoestimulantes, como o metilfenidato (Ritalina) e as anfetaminas. Esses medicamentos ajudam a aumentar a disponibilidade de dopamina em áreas-chave do cérebro, melhorando a atenção, o controle de impulsos e a regulação emocional.

4.1 Medicamentos Psicoestimulantes

Os medicamentos mais comumente usados para tratar o TDAH têm como objetivo aumentar a atividade dopaminérgica no cérebro. Eles aumentam a liberação e bloqueiam a recaptação de dopamina, melhorando, assim, a função do córtex pré-frontal e a capacidade de controle e foco.

4.2 Terapias Comportamentais

Além dos medicamentos, terapias comportamentais também são essenciais no tratamento do TDAH. Elas ajudam as pessoas a aprender estratégias de organização, controle emocional e gestão de impulsos, complementando o efeito dos medicamentos.

5. Conclusão

Embora não seja totalmente preciso afirmar que o cérebro de uma pessoa com TDAH nasceu fabricando menos dopamina, é claro que há uma deficiência dopaminérgica significativa em algumas áreas do cérebro que afeta o comportamento e as funções cognitivas. A compreensão dessa deficiência é fundamental para o tratamento eficaz do transtorno. O tratamento com medicação e terapia comportamental pode ajudar a restaurar o equilíbrio dopaminérgico e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com TDAH.

Referências

  1. Biederman, J., & Faraone, S. V. (2005). Attention-deficit hyperactivity disorder. Lancet, 366(9481), 237-248.
  2. Volkow, N. D., et al. (2009). Molecular imaging studies on dopamine in attention-deficit hyperactivity disorder. Biological Psychiatry, 65(7), 624-635.
  3. Swanson, J. M., et al. (2007). Effect of stimulant medication on ADHD: A review of the evidence. Clinical Psychology Review, 27(6), 740-760.
Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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