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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Vício em apostas: quando o prazer vira prisão

Introdução:

Apostas podem parecer um passatempo inocente. Um jogo de sorte, uma emoção rápida, um entretenimento acessível. No entanto, para muitas pessoas, o que começa como diversão se transforma em compulsão. 

O vício em apostas é um transtorno mental reconhecido, com sérias consequências emocionais, financeiras e sociais. Neste texto, vamos entender o que mudou no mundo das apostas, quem são os mais afetados, como identificar o vício e quais são os impactos que ele provoca na vida de quem sofre com esse problema.

Jogos de azar sempre existiram. O que mudou?

Jogos de azar acompanham a humanidade há milênios. O que mudou radicalmente nas últimas décadas foi a acessibilidade, a velocidade das apostas e o bombardeio de estímulos digitais.

Hoje, com o celular na palma da mão, qualquer pessoa pode apostar a qualquer hora. Além disso, o marketing agressivo das casas de apostas, muitas vezes ligadas a esportes, influenciadores e promoções “gratuitas”, cria a sensação de que apostar é inofensivo.

Essa banalização do jogo encobre os riscos reais, criando terreno fértil para o desenvolvimento de vício, especialmente entre os mais vulneráveis.

Quem são os principais jogadores patológicos?

Embora qualquer pessoa possa desenvolver compulsão por apostas, estudos indicam que homens jovens, entre 18 e 35 anos, são os mais afetados. Outros fatores de risco incluem:

  • Impulsividade e busca por adrenalina
  • Histórico de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e TDAH
  • Baixa autoestima e carência afetiva
  • Problemas financeiros e desejo de “resolver tudo com um prêmio”
  • Solidão ou falta de rede de apoio

O apostador patológico frequentemente busca no jogo uma fuga emocional, o que o torna ainda mais refém do ciclo vicioso da perda e da esperança.

Quando apostar vira dependência?

Apostar vira dependência quando o controle se perde. Isso acontece quando:

  • A pessoa não consegue parar de apostar, mesmo com prejuízos
  • Começa a mentir sobre o tempo e o dinheiro investido no jogo
  • Usa o jogo como forma de aliviar tristeza, ansiedade ou frustração
  • Aposta para “recuperar o que perdeu”, entrando no ciclo da perda
  • O jogo passa a causar problemas familiares, emocionais e profissionais

A dependência se instala de forma sorrateira, e o jogador pode demorar a perceber que perdeu o controle e que já não joga por prazer, mas por compulsão.

Quais podem ser os impactos emocionais, financeiros e sociais?

O vício em apostas gera danos profundos em diferentes áreas da vida.

Emocionalmente, o jogador vive em um estado constante de ansiedade, culpa e vergonha. A frustração por perder e a angústia de não conseguir parar geram sintomas semelhantes aos de outros transtornos, como depressão, insônia, irritabilidade e até pensamentos suicidas.

Financeiramente, o descontrole leva ao acúmulo de dívidas, uso de cartões de crédito, empréstimos, vendas de bens e, em casos extremos, até práticas ilegais para conseguir mais dinheiro.

Socialmente, o jogo compromete relacionamentos afetivos, rompe vínculos familiares e prejudica o desempenho no trabalho. Muitos jogadores acabam se isolando por medo de julgamentos e pela vergonha de admitir o problema.

Existem caminhos para o tratamento e a recuperação?

O jogo compulsivo tem tratamento. A psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), ajuda o paciente a entender os gatilhos emocionais que o levam a apostar, desenvolver autocontrole e estabelecer estratégias de prevenção.

Além disso, grupos de apoio como Jogadores Anônimos oferecem acolhimento e trocas com pessoas que enfrentam os mesmos desafios. Em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado para tratar sintomas associados, como ansiedade ou depressão. O primeiro passo é sempre reconhecer o problema e buscar ajuda. A recuperação é possível e muitas vidas já foram reconstruídas com apoio e persistência.

Conclusão:

O vício em apostas é um transtorno sério, mas tratável. Ele rouba tempo, dinheiro, relacionamentos e saúde mental, mas pode ser superado com informação, apoio emocional e tratamento adequado. A liberdade de viver sem depender da próxima aposta é real e possível. Aposte em você, e não no jogo!

Referências

American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Grant, J. E., et al. (2010). Pathological Gambling: A Clinical Guide to Treatment.

Lobo, D. S. S., & Kennedy, J. L. (2009). Genetic aspects of pathological gambling.

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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