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Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

Dependência Afetiva no Borderline: Amor ou Sobrevivência?

Dependência Afetiva no Borderline Amor ou Sobrevivência

Introdução

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma condição marcada por instabilidade emocional, relacionamentos intensos e impulsividade. Uma das características mais dolorosas para quem convive com esse transtorno é a necessidade desesperada de ser amado. Para a pessoa borderline, o medo de rejeição e abandono pode ser tão avassalador que ela faz de tudo para manter o outro por perto — mesmo que isso custe sua própria dignidade, equilíbrio e paz. Neste texto, vamos explorar a dependência afetiva no borderline e os caminhos possíveis para lidar com esse sofrimento.

O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?

O TPB é um transtorno mental descrito pelo DSM-5 que afeta a forma como o indivíduo se relaciona consigo mesmo e com os outros. Os principais sintomas incluem:

  • Medo intenso de abandono, real ou imaginado
  • Relacionamentos intensos e instáveis
  • Dificuldade em regular emoções
  • Impulsividade em comportamentos prejudiciais
  • Sentimento crônico de vazio
  • Raiva intensa e inadequada
  • Comportamentos autodestrutivos, incluindo automutilação e ideação suicida

Essa sensibilidade extrema ao abandono torna as relações amorosas um terreno emocional muito frágil e doloroso.

A dependência afetiva no borderline

A dependência emocional no TPB é mais do que carência. É uma necessidade quase vital de ter o outro como âncora para manter a identidade e o senso de existência. Quando a pessoa com TPB sente que está sendo rejeitada ou ignorada, seu sistema emocional entra em colapso. Essa dor ativa mecanismos de defesa intensos, que podem incluir manipulação, submissão extrema, crises emocionais e até ameaças de autolesão.

Por isso, o amor para o borderline não é apenas afeto — é sobrevivência. E é justamente essa dinâmica que gera tanto sofrimento e desgaste, tanto para quem vive o transtorno quanto para quem convive com ele.

Como essa necessidade afeta os relacionamentos

A necessidade extrema de aceitação pode levar o borderline a:

  • Se anular para agradar o parceiro
  • Tolerar relacionamentos abusivos com medo de ficar só
  • Ter reações exageradas diante de pequenos afastamentos
  • Idealizar o outro intensamente e, em seguida, desvalorizá-lo
  • Sentir ciúmes excessivo e insegurança constante

Essas atitudes acabam sabotando os próprios vínculos que a pessoa deseja preservar, gerando um ciclo de apego, conflito e dor.

De onde vem essa necessidade de ser amado?

A raiz da dependência afetiva no borderline geralmente está ligada a vivências traumáticas na infância, como abandono, negligência emocional, abuso ou vínculos instáveis com figuras parentais. Essas experiências fazem com que a pessoa desenvolva um modelo interno de que o amor é instável, condicional e sempre ameaçado.

Assim, a busca por amor na vida adulta se torna uma tentativa de curar feridas profundas. O problema é que, sem apoio profissional, essa busca tende a se repetir de forma disfuncional e dolorosa.

Caminhos para o cuidado e transformação

A boa notícia é que, embora o TPB seja um transtorno complexo, há tratamento e possibilidades reais de melhora. A psicoterapia, especialmente a Terapia Comportamental Dialética (DBT), tem se mostrado extremamente eficaz para pessoas com TPB.

Além da terapia, algumas atitudes são fundamentais:

  • Desenvolver o amor-próprio e a autonomia emocional
  • Praticar o autocuidado e o autoconhecimento
  • Aprender a tolerar a frustração e o vazio
  • Estabelecer limites claros nas relações
  • Buscar redes de apoio, como grupos terapêuticos e familiares

Esses passos ajudam a reduzir a dependência e a construir relacionamentos mais saudáveis, baseados em respeito mútuo e segurança emocional.

Conclusão

Para quem vive com Transtorno de Personalidade Borderline, o desejo de ser amado pode se transformar em uma dor constante. No entanto, é possível transformar esse desejo em autocuidado, reconstruindo a autoestima e a capacidade de se amar — sem depender exclusivamente do outro para se sentir inteiro.

A cura não é apagar o que se sente, mas aprender a sentir de forma mais segura, consciente e amorosa. O amor que tanto se busca no outro começa, pouco a pouco, dentro de si.

Referências

American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Linehan, M. M. (1993). Cognitive-behavioral treatment of borderline personality disorder. Guilford Press.
Gunderson, J. G. (2011). Borderline Personality Disorder: Ontogeny of a Diagnosis. American Journal of Psychiatry.
Bateman, A., & Fonagy, P. (2004). Psychotherapy for Borderline Personality Disorder: Mentalization-based treatment. Oxford University Press.

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Dra. Ana Beatriz Barbosa

Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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